Quando ele renunciou, eu estava visitando
as comunidades, em vista da avaliação dos catecúmenos para os sacramentos.
Primeiro, a notícia foi de surpresa e as mais variadas perguntas dos porquês
dessa renúncia. Perguntas não eram muito teológicas ou com algum tom de
suspeita sobre casos emblemáticos ou pressões internas e externas frente a um
mundo cheio de desafios para a fé cristã. Eram pequenas perguntas assim como um
filho faz para um pai. E eu tive que assumir isso. Com paciência ir conversando
sobre o próprio papa e como um papa pede para sair e dar lugar a outro.
Debaixo das árvores a conversa se
alargava ao final das nossas avaliações. Aqueles que assumem ministérios, os
catequistas, os animadores de comunidades, anciãos e algumas mulheres eram os
que mais curiosos encostavam-se às minhas explicações. A surpresa se
transformou em uma notícia eclesial e juntos estávamos falando sobre uma só
Igreja, aquela em que nos dá sentido de estarmos todos ali. E foi assim em
todas as comunidades por onde passei neste tempo, e que juntos fomos criando
também a expectativa pelo próximo papa. A informação e a surpresa transformaram-se
em espera e confiança de que um irmão maior na fé nos represente, e o anunciem lá
de Roma como o nosso mais novo papa.
Junto àqueles com quem eu me
aproximava, durante a formação do conclave, íamos criando possibilidades, assim
como em qualquer outro lugar do mundo. Seria um papa africano? Brasileiro,
asiático? Íamos também conversando sobre a função de um papa, seu ministério e
importância para a Igreja.
No dia 13 de março eu estava em
casa, e no outro dia sairia para novas visitas às comunidades. Naquela noite,
quando o papa foi escolhido, eu acompanhava pela internet, já ansioso pela
fumaça branca. E quando soube do nome e do anúncio, logo enviei mensagens de
celular para alguns animadores da paróquia. E a primeira pessoa com quem
partilhei foi o Nito, nosso guardião aqui de nossa casa na vila de Moma, ele é
cristão. E logo pela manhã do outro dia partilhamos com a Felizarda, uma mulher
que trabalha aqui no nosso pátio numa pequena associação de serviço de
fotocopiar, ela também é cristã e animadora da catequese em uma das comunidades
aqui da vila. Acho que fomos as três primeiras pessoas a saberem da notícia,
numa vila de mais de 40 mil habitantes, onde somente dois por cento são
cristãos.
Felizarda deu um leve grito,
coisa que as mulheres fazem aqui, sinal de júbilo e alegria, e logo disse:
quero ver a foto, e como ele é. Fiz uma impressão da foto do mais novo papa e
mostrei a eles. E assim segui às comunidades, e o assunto logo vinha entre os
animadores. Eu portador dessa notícia e dessa pequena foto, e que mostrava o
rosto de um homem que se tornara papa. E que agora ele está muito próximo de
cada um de nós. E a medida que a foto ia passando, e o silêncio misturado à
expectativa, logo davam espaço a outras perguntas simples: de onde ele é? Como
é o nome de seu pai? O que ele disse quando o escolheram?
Foi assim. Eu e o papa. Próximos.
Aqui ele não se mostrou da sacada do Vaticano. O novo papa foi passando de mão
em mão. Juntos, fomos sentindo uma novidade que nos faz ser uma Igreja
servidora do Evangelho. Guiados pelo Espírito do Senhor.
Ele que se inclinou para pedir a
bênção do povo, também o recebe aqui. E todos se sentiram abençoados por ele, o
papa Francisco. Inclusive eu.